Qual a relevância dos perfis de times no desenvolvimento de produtos?
Existe um conceito bastante relevante quando falamos sobre times de desenvolvimento de produto, que é o perfil de times. O conceito de perfil está diretamente relacionado ao papel que determinado time exerce durante o desenvolvimento de uma solução para um ou mais clientes.
Este conceito se resume (basicamente) à três frentes: Entregas de requisitos, Desenho de requisitos e Necessidade/Problemas do usuário final. Idealmente um time de projetos deveria ter domínio das três frentes, pois só assim se geram produtos de sucesso de mercado. O grande problema é que muitas das vezes acaba que algum destes três pontos é coberto por alguém que não faz parte do time, seja: o próprio cliente, uma agência terceira, um colaborador distante do time, um prestador de serviço, etc…
Isso faz com que o time não esteja 100% imerso em necessidades de usuários finais e acaba gerando um impacto negativo no desenho de soluções completas e entregas que trazem um verdadeiro valor para a empresa/cliente.
Quando se fala sobre desenvolvimento de produtos, é fundamental compreender cada cenário específico e suas limitações. Isso vai desde entender o mercado em si, até o perfil dos usuários que utilizarão aquela plataforma, as famosas personas. Muitos dos times em que passei levantaram pontos relevantes sobre a parte de criação de requisitos, e outros levantaram pontos sobre a parte de desenvolvimento de funcionalidades (é claro que aqui o foco principal deverá ser sempre o usuário final do produto).
Marty Cagan, no seu livro “Inspirado”, apresenta uma ideia que ilustra bem o assunto: A forma como as equipes lidam com novas oportunidades resulta em diferentes tipos de equipes. Essas incluem o time de Entregas (Delivery), o time de Funcionalidades (Features) e o time Empoderado (Empowered). Abaixo estão algumas das principais características de cada tipo, de acordo com Cagan:
Time de Entregas (Delivery):
- Não há necessidade de Product Discovery por parte do time (tudo já está definido e desenhado);
- Gestão de Backlog (quando será entregue o próximo requisito);
- Servir ao negócio sem questionamentos profundos;
- Gerente de Produto se caracteriza por ser mais um Administrador de entregas (ou backlog) do que exercer sua função na frente de produtos (em poucas palavras, o gerente de produto (PO) deveria ter como foco o ciclo de vida e estratégia do produto e não ter como única tarefa administrar entregas).
- Time de Mercenários (estão desenvolvendo o produto por obrigação e não por achar que é algo com grande potencial e qualidade);
Frase comum em cenários onde o time está focado somente em Entregas (Delivery):
“Vamos priorizar os itens do backlog. O que temos no backlog hoje?”
Time de Funcionalidades (Features):
- Não há necessidade de Product Discovery por parte do time (tudo já está definido);
- Grande foco é a gestão de planejamento (ou Roadmap — quando entrará cada requisito desenvolvido);
- Servir ao negócio sem questionamentos profundos;
- Gerente de Produtos atua mais como Gerente de Projetos — (em poucas palavras, o gerente de produto (PO) deveria satisfazer as necessidades de um grupo específico, conhecido como público-alvo. Já o gerente de projeto (PM) é mais voltado para o cumprimento de um conjunto de tarefas com a finalidade de alcançar uma meta específica);
- Time de Mercenários (estão desenvolvendo o produto por obrigação e não por achar que é algo com grande potencial e qualidade);
- Time não define quais requisitos entrarão, mas definem quando cada um será publicado e desenham a solução;
Frase comum em cenários onde o time está focado somente em Funcionalidades (Features):
“Requisito que vocês (time) construíram não trouxe o valor que deveria. A culpa é de quem?”
Time Empoderado (Empowered):
- Descobrimento de Produto com base em necessidade dos clientes;
- Focado em resolver problemas e não em desenvolver requisitos;
- Servir ao negócio, necessidades do negócio e problemas de usuários;
- Gerente de Produto atua como Gerente de Produto, focando 100% no público alvo com a finalidade de desenvolver versões que atendam suas necessidades;
- Time imerso na estratégia e objetivo do produto;
- Time de missionários (acreditam verdadeiramente na visão e estão comprometidos a resolver problemas dos usuários/clientes);
Frase comum em cenários onde o time está empoderado (Empowered):
“O time pode ter entregado pouco, mas entragaram um valor enorme e que fez a diferença para a empresa.”
Em suma, quando olhamos para o cenário de desenvolvimento de produtos, temos o seguinte diagrama:
Mas afinal, qual é o verdadeiro objetivo disso tudo?
A verdade é que para desenvolver um produto bem-sucedido em um contexto volátil e complexo, Marty Cagan afirma que é fundamental ter uma equipe empoderada e conectada com as necessidades do usuário final. Quando um time está alinhado aos problemas e necessidades do usuário, eles estão muito mais propensos a desenvolver soluções inovadoras e bem-sucedidas. Como Theodore Sturgeon (grande escritor da década de 80) afirmou, “90% de tudo que temos hoje é lixo”, o que significa que se um time não estiver conectado às entregas, ao desenho de soluções e às necessidades do usuário, há uma grande chance de o produto ser apenas mais do mesmo ou fracassar.
É importante que as equipes sempre priorizem o aprendizado e conheçam os diferentes perfis de equipe. Isto permite experimentar abordagens e cenários, o que aumenta as chances de sucesso dentro das restrições do negócio. Em alguns casos, a equipe pode não ter escolha, mas é importante entender os diferentes tipos de perfis para que você entenda como a equipe pode trabalhar junta de maneira eficaz, dessa forma o time compartilha de um mesmo propósito e com entregas de valor verdadeiras (tudo isso dentro de uma cultura & mentalidade ágil, mas isso é papo para outro post…).
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